quinta-feira, 3 de maio de 2018

Escondida


Se vai ler esse texto, saiba que ele é desconexo e confuso.





Perdida no espaço entre os abraços não dados, no sono que demora a chegar e no que demora a ir embora pela manhã. Há uma dor dentro do peito que não é bem uma dor, parece mais com um sufocamento, uma morte lenta e dolorosa. Eu chamo a coisa de “onda”.
Essa onda é paralisante. Me aprisiona em mim, não tem saída de emergência e não avisa quando vai voltar. Quando ela aparece todo céu torna-se cinza e todas as pessoas parecem te enxergar como uma aberração com um olhar piedoso.
As coisas que antes me proporcionavam prazer nada fazem sentido agora, nem mesmo cócegas na barriga. Ah, como eu sinto falta do som estridente da minha gargalhada! Tenho a sensação de que ela jamais voltará. 

Se a vida da gente tivesse aqueles letreiros luminosos dos hotéis e motéis americanos de filmes, do tipo “não há vagas”, no meu estaria escrito: “Não há mais esperanças”.

Queria ter um botão pra me desligar, igual daqueles bonecos com pilhas. Queria eu ser um boneco. Eles não sentem dor. Os bonecos riem, mas não é por vontade própria, é porque os humanos os controlam. Assim sou eu. Sorrio porque isso deixa as pessoas que amo felizes. Sorrio porque é preciso. Por dentro eu não sorrio. Eu sangro. Meu sangue já não é mais vermelho, mas preto, igual quando alguém sangra até morrer e o sangue coagula, sabe?!
Estou sangrando agora... pelos olhos. Já não me lembro muito claramente dos momentos em que fui feliz, mas sei que foi na adolescência, apesar de terem me roubado a alma aos 4 anos de idade e depois a minha vida aos 12 anos. No entanto, curiosamente e sem sentido algum, eu era feliz. Ou pensava que era, sei lá. Acho que não tinha a dimensão do que tinha me acontecido até me tornar um adulto jovem.
Sinto que quando me roubaram a vida, deixaram marcas tão profundas que eu demorei pra enxergar as cicatrizes, mas sempre soube que algo ali estava errado, pois eu sentia as feridas. Eu as sinto até hoje quando alguém me toca, quando eu me toco ou quando vejo meu reflexo nu no espelho. Eu não sei quando irei amar alguém novamente, sequer sei se irei me amar algum dia.
É difícil viver dentro de um único corpo sendo duas, porque as pessoas te veem e só enxergam um corpo e não um ser humano com um acervo de emoções emergindo e submergindo num mar revolto.


Esse texto é mesmo desconexo.


Por que as coisas são do jeito que são? Eu olho para todos os lados em busca de uma luz. Mas que luz seria essa? Deus? Não faço ideia.